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O plástico é muito precioso para ser desperdiçado

*Por Simara Souza, Coordenadora Executiva do Instituto SustenPlást (Tampinha Legal) e Speaker Hunter do Congresso Brasileiro do Plástico (CBP)

Fui questionada sobre como as empresas estão encontrando maneiras mais sustentáveis de colocar seus produtos no mercado para produzir menos resíduos.

Inicialmente precisamos atentar que existem dois grupos de resíduos em questão:

  • Resíduo industrial, que há políticas de gestão de resíduos nas empresas e estas são demandadas pelos órgãos fiscalizadores competentes;
  • Resíduo pós-consumo, ou seja, resíduos produzidos pela sociedade civil: resíduos que eu e você, que está lendo agora, produzimos.

Também precisamos relembrar que quando tratamos sobre o termo “sustentabilidade” devemos atender ao tripé (triple bottom line): sustentabilidade econômica, social e ambiental.

As empresas estão em constante aprimoramento de embalagens para que todos os processos sejam mais sustentáveis (econômica, social e ambientalmente). Embalagens mais baratas entregarão produtos mais baratos na prateleira. Embalagens mais caras, resultarão em preços de prateleira mais altos. Quem paga, lá no final, na prateleira, somos você e eu.

Vamos tomar como exemplo a embalagem tipo PET: Até há alguns anos, tínhamos embalagens de vidro para envase de medicamentos e alimentos como maionese, aveia, café solúvel, molho de tomate, milho, ervilha, azeitonas, champignon, garrafas de refrigerantes, e etc.

Por que atualmente as embalagens são de plástico ou sachê (Stand-up Pouches)? Porque são mais leves, mais resistentes e mais baratas.

Imagine dois caminhões: um caminhão carregado de refrigerantes em garrafas de vidro e outro caminhão carregado de refrigerantes em garrafas PET. Qual dos dois é o mais sustentável? Você acertou se respondeu “o que está carregado com garrafas PET”. Por que?

Por vários motivos. Um deles é porque quanto mais leve o caminhão estiver, menos combustível ele consumirá, além de haver menos emissões de gases, o custo de sua logística será menor, portanto, o preço final na prateleira será menor. Isto é sustentável!

Lembre-se que: Quem paga, lá no final, na prateleira do supermercado, somos nós: você e eu.

Essa é uma das vantagens do material plástico: é LEVE! Isto ocorre com todos os modais: aviões, navios e trens, inclusive com os nossos próprios automóveis: quanto mais leves estiverem, mais sustentáveis serão.

Outra vantagem do material plástico: é mais RESISTENTE! Por serem mais resistentes, dificilmente estas embalagens se rompem.

Quantas vezes deixamos cair um xampu, creme, desodorante, detergente de lavar louças, amaciante… não se rompem, não há perdas…

Quando a sacola de papel era usada pelos supermercados, se rompiam, as compras caiam e havia perdas… quem arcava com o prejuízo? Nós: você e eu.

Agora imagine as cargas de embalagens de vidro e de papel sendo transportadas nos caminhões, aviões, navios: cargas mais pesadas (maior consumo de combustível) e que se rompem (perdas de produto). Quem pagará por isso? Nós: você e eu.

Quando a indústria (farmacêutica, alimentícia, cosmética, etc.) usa embalagens de plástico, dificilmente há perdas! Isso é muito sustentável. Quem paga menos por isso? Você e eu.

Assim funciona com a indústria moveleira. Se consumimos móveis de plástico ou laminados, sua vida útil será maior e o seu preço será menor.

É possível compreender que qualquer item extraído da madeira, quer sejam móveis ou papel, não são sustentáveis? Quer seja pelo aspecto econômico, social ou ambiental?

Voltando às embalagens de plástico, o que precisamos fazer com as embalagens? Coleta seletiva.

As famílias de recicladores (catadores) precisam deste material para sobrevivência: isto é sustentabilidade.

E o que são feitos com os materiais plásticos? 100% dos plásticos são recicláveis. Você sabia disso?

Os plásticos retornam para a indústria como matéria prima secundária e novamente outros materiais são confeccionados.

Embalagens de feijão, arroz, açúcar, de escovas de dente, de fio dental, xampu, enfim… qualquer item que tenhamos de plástico como a carcaça de um liquidificador ou de um brinquedo poderá se tornar qualquer outro artefato como baldes e bacias, escovas e vassouras, de prendedores de roupas a para-choque de automóveis. E isso depende de quem? De nós: você e eu.

As garrafas PET são recicladas e são muito utilizadas pela indústria têxtil. É por isso que hoje temos roupas mais baratas do que no passado. Quando você olhar na etiqueta da sua roupa escrito “poliéster”, saiba que há garrafa PET ali.

Em um passado não muito distante, você lembra que devolvíamos as garrafas de vidro nos supermercados? Recebíamos um “vale” do vasilhame ou “casco”. Porque não funcionou?

Por várias razões. Uma delas é porque as empresas precisavam fazer a “logística reversa” das garrafas de vidro. Imagine caminhões carregados de engradados com garrafas vazias de refrigerantes retornando para a fábrica. Durante a armazenagem, carregamento e descarregamento do caminhão, havia perdas (quebras) e consequentemente acidentes de trabalho (pessoas machucadas). Durante o processo de lavagem, secagem, esterilização, e envase, também. Além disso, pense no custo de todos esses processos. Quanto de água, energia e combustível eram gastos? Quanta mão de obra era necessária?

Quem pagava por isso? Nós: você e eu! (Se você não lembra, pergunte a seus pais ou avós).

É por isso que algumas famílias podiam comprar só uma garrafa (de vidro de 1 litro) para servir durante o almoço de domingo: eram caros.

Sem falar que nós ficávamos “reféns da marca”. Se comprássemos um refrigerante de uma determinada marca, não poderíamos trocar de marca e utilizar o vale do vasilhame da outra marca como “crédito”. Se quiséssemos trocar de marca, precisávamos pagar pelo novo vasilhame. Definitivamente isso não era sustentável.

Bem… Como isso não funcionou, não foi implantado para as demais embalagens que eram de vidro como o café solúvel, maionese, aveia, etc.

Atualmente, as embalagens de plástico proporcionam alimentos mais acessíveis. Esta é outra grande vantagem do plástico: é BARATO!

Os mesmos alimentos que hoje são entregues em embalagens de plástico se fossem envasados em outros materiais, chegariam às prateleiras muito mais caros. Quem pagaria por isso? Nós: você e eu.

A verdade é que, países com maiores níveis de educação/cidadania são os que têm os maiores níveis de reciclagem. Exemplos disso são o Japão e a Itália.

Ao desembarcarmos em aeroportos italianos, e em muitos locais do país, é comum encontramos a frase: “La plastica è troppo preziosa per diventare un rifutto”, em tradução livre significa: “O plástico é muito precioso para ser desperdiçado.” (Frase que faz parte da “Raccolta differenziata”, iniciativa do Corepla).

Esta frase diz muito. Trata-se de que precisamos compreender o material plástico como matéria prima de valor. Aprendemos a apagar a luz. Aprendemos a fechar a torneira. Precisamos aprender a dar o destino adequado aos resíduos plásticos, ou seja, atitudes! Portanto: SEPARE!

Ah, mas… E aquele plástico que está boiando? Pense… aquele plástico que boia é a “ponta do iceberg”, serve de “termômetro”. Enquanto ele boia, há muitos outros materiais no fundo do mar, dos rios…por quê? Porque alguém os colocou lá.

Em mares e rios é possível encontrar os mesmos resíduos que são encontrados em parques, praças e praias, acrescente a eles todos os resíduos produzidos no mar. Sim! No fundo de mares e rios são encontrados pneus e sofás, vidros e latas, pilhas e baterias e ainda redes de pesca e cordas, pedaços de barcos e boias, etc. Na água também são encontrados óleo de navios e de cozinha, fragmentos de papel, ferrugem, produtos químicos, medicamentos e tecidos. Não é porque não são vistos que não estão lá.

Pegue um copo de água e dissolva uma colher de açúcar. Você não verá o açúcar, mas ele está lá.

Proibir o canudinho, por exemplo, (que representa menos que 0,2% de todos os resíduos sólidos que nos deparamos diariamente nas ruas, calçadas, etc.) não irá fazer a população mudar de atitudes. O que faz a população mudar de atitudes é educação/esclarecimentos. As pessoas querem saber! As pessoas têm o direito de saber as informações verdadeiras.

Aliás, canudos, talheres, pratos, copos e xícaras descartáveis são indispensáveis para inúmeras situações como escolas, presídios, hospitais, festas e festivais, etc. Por quê? Porque são leves, baratos, resistentes e … proporcionam segurança! Por quê? Porque são higiênicos. Quando você utiliza estes itens você tem segurança alimentar. Imagine copos de vidro, pratos e xícaras de louça ou talheres e canudos de inox mal lavados. Você já passou por uma situação dessas em algum restaurante? Tenho certeza que sim.

Lembre-se que muitas doenças são transmitidas por compartilhamento de objetos pessoais como estes mencionados.

Você sabia que estes artefatos descartáveis não precisam ser lavados para destiná-los para a reciclagem? Sabe que todos eles são enfardados e enviados para a recicladora e lá são lavados com água de reuso? Isto é sustentável!

Lembre-se que, vemos isso na prateleira… quem paga somos nós: você e eu. São baratos, não são? Muito, muito sustentáveis!

Quanto mais água e sabão usarmos maior a poluição e menos água doce teremos, recurso natural finito e em escassez.

Ah! E a poluição? O ser humano é o único ser vivo capaz de poluir.

Quando tratamos de resíduos pós-consumo, precisamos considerar as atitudes da população como fator determinante para a higiene e organização das cidades.

Não há administrador público no mundo que consiga gerir uma cidade, estado ou país se a população não colaborar! É assim que funciona dentro de nossas casas, nas escolas, nos condomínios e nas empresas. Organizações precisam de atitudes congruentes com os seus objetivos. Se queremos um mundo mais limpo, com menos doenças, mais sustentável, precisamos nós (você e eu) sermos a mudança que queremos.

A indústria de transformação do plástico é a que menos polui em seu processo produtivo. Se tiver dúvidas, acompanhe os processos produtivos de outros materiais como papel/papelão, alumínio, vidro e verá o quanto são poluentes.

Quando tratamos de resíduos em parques, praias, estádios, rodoviárias, aviões, estamos tratando de resíduos pós-consumo (o que a sociedade faz com os resíduos que produz).

A população mundial segue crescendo. O globo terrestre é um só e não aumentará de tamanho.

Em 1900, a população mundial era de 1,56 bilhões de habitantes. Em 2020, estamos com 7,8 bilhões de habitantes, ou seja, CINCO vezes mais! Isto significa dizer que você pode imaginar a sua casa agora com cinco vezes mais pessoas.

Vamos supor que em sua casa more você e três pessoas: sua esposa e dois filhos. A sua casa é o planeta Terra. Sua família é a população mundial em 1900. Agora, multiplique por cinco: 5 homens, 5 mulheres e 10 crianças, ou seja, 20 pessoas. Todas usando o mesmo banheiro e cozinha. Pense na quantidade de pratos e roupas sujos e nos resíduos que produzirão. Pense na quantidade de água, energia e alimento que consumirão. Agora pense nos resíduos e nas lixeiras.  Esta é a situação do planeta Terra em 2020.

Como você administraria esta convivência? Todos deveriam estar cientes das suas responsabilidades. Esta realidade é mais notória em países populosos como o Japão. Porque no Japão há um alto consumo de plásticos e não há proibições? Porque a população sabe das vantagens do material plástico (barato, leve, resistente) e sabe destiná-lo adequadamente (educação/esclarecimento/cidadania).

O agente transformador (assim como vemos em outros países) é a Educação! Coleta seletiva se faz todos os dias, em todos os lugares, por todas as pessoas.

Quem polui praias, praças e parques… somos nós: você e eu.

Quem não separa na lixeira da cozinha em casa, ou na lixeira do banheiro misturando papel higiênico usado com embalagens plásticas que devem ser destinadas para a reciclagem ou derrama óleo de cozinha pelo ralo da pia, somos nós: você e eu.

Quem joga a bituca de cigarro pela janela do carro e larga no chão, o canudinho, a sacolinha, o guardanapo de papel, somos nós: você e eu.

Ao me perguntarem novamente como as empresas estão encontrando maneiras mais sustentáveis de colocar seus produtos no mercado para produzir menos resíduos, poderei responder: Já encontraram a SOLUÇÃO!

Estão usando o material mais sustentável econômica, social e ambientalmente: O PLÁSTICO!

E se me perguntarem o porquê de se encontrar tanto desperdício de plástico “por aí”, responderei: Os responsáveis por este desperdício, somos nós: você e eu.

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